Dirigido por Sato Morimasa e criado com a RE Engine, Resident Evil Village chegou aos consoles e computadores, como a mais recente versão da famosa série da Capcom. O jogo continua fatos que aconteceram em Resident Evil 7, também o primeiro criado por Sato, de maneira quase direta, apresentando uma nova abordagem para o horror já conhecido, agora em território europeu.
Disponível no PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X, Xbox Series S, PC (Windows) e ainda no Google Stadia, via streaming, Resident Evil Village foi anunciado em 2020 e já estava em produção há, pelo menos, três anos – ou seja, desde o ano em que Resident 7 foi lançado. Isso traz o benefício de ter uma equipe bem similar trabalhando nos dois, o que nos leva a algumas vantagens como jogadores.
Mas foi a Capcom capaz de superar a qualidade de Resident Evil 7 e ainda deixar a experiência interessante para quem está chegando agora? Confira aqui, no review do Tecnoblog.
Para esta análise o jogo Resident Evil Village foi testado em um PS5, com a versão de PS5 do jogo. Também tive acesso à edição de PS4, via retrocompatibilidade, para fins de comparação gráfica. Ah, e este review não tem nenhum spoiler!
Análise em vídeo de Resident Evil Village
Aviso de Ética
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O Resident Evil Village foi fornecido pela Capcom por doação em versão para PS5. O PS5 foi fornecido pela Sony por empréstimo por tempo indeterminado. Para mais informações, acesse tecnoblog.net/etica.
Chegou agora? Não tem problema
Resident Evil Village abre com um bom resumo opcional do que aconteceu em Resident Evil 7. Algo positivo mesmo para quem já jogou o anterior, já que fazem alguns bons anos de seu lançamento original. Outra boa surpresa é que este resumo já conta com a dublagem em português inédita da série, a qual eu falarei mais a respeito, em breve.
Este resumo deixa claro pelo menos uma coisa: Resident Evil Village é parte de algo maior. Como se RE 7 tivesse sido o início de uma grande e nova trilogia, enquanto Village é seu capítulo do meio. O senso de continuação direta é bem grande e tudo faz um pouco de sentido. Essa sensação aumenta se você tiver jogado todos os conteúdos extras do sétimo game da saga, que complementam seu enredo com qualidade.
De qualquer forma, é sempre bom ver que a Capcom se preocupa em situar seus fãs e jogadores, de alguma maneira, para que ninguém diga que está perdido ou sem entender o que rolou.
Ethan Winters, o retorno
Resident Evil Village traz o retorno de Ethan Winters, que tenta se estabelecer com sua esposa Mia e sua filha recém-nascida, Rose, agora em uma região europeia. Sua vida muda, porém, quando Ethan recebe a visita nada amigável de Chris Redfield – sim, um dos protagonistas originais de Resident Evil, que também apareceu no anterior.
Moribundo e largado após um ataque inesperado, Ethan tenta se recompor, encontrar respostas, Mia e também sua filha, enquanto, claro, tenta sobreviver a novas criaturas, desafios naturais e pessoas doidas que cruzam seu caminho.
É impressionante como a Capcom conseguiu criar um personagem novo, aparentemente com quase nenhum background, e nos fazer afeiçoar por ele em apenas dois jogos – ou um, para quem ainda não jogou Village, claro. Ethan é uma casca vazia. Ele é o jogador. Não tem passado, não tem muita personalidade e não tem nem mesmo rosto, mas, ainda assim, sempre nos chocamos a cada cena como nosso sofredorzinho querido.
E Ethan sofre. Sofre muito. Quem estava acostumado com as cenas chocantes de Resident 7 vai se sentir em casa por aqui, mas talvez se choque um pouquinho mais. Quem não estava… Bem, se prepare para algumas surpresas nada agradáveis ao longo da jornada.
Mas, sobre a história, é possível dizer que Resident Evil Village é um Resident Evil dos bem conservadores. Para o bem e para o mal. Se o jogo fosse uma blogueirinha do Instagram, diria “quem me conhece, sabe”. Há qualidades e problemas, mas, felizmente, o saldo positivo é o que domina ao fim.
Como todo game da série, Resident Evil Village é repleto de surpresas. Algumas acontecem até mesmo bem antes do que esperamos – e vão gerar alguns questionamentos de fãs que aguardavam por algo mais… Conforme as coisas foram divulgadas, digamos assim. Não dá para falar muito sem entregar spoilers, mas posso adiantar que a Capcom foi corajosa, e até bem esperta, com algumas decisões.
Tradição e modernidade
O que falei para a história também vale para o restante do game. Não tem como fugir do que é Resident Evil em Village. Até certo ponto ele é um jogo bem tradicional, até demais, a começar pela linearidade.
Algumas pessoas podem discordar, mas Resident Evil Village é, sim, bem linear. Ele passa a impressão de exploração, alguns cenários dos mapas dão maior liberdade para procurar por itens, mas nunca existe uma rota secundária, mesmo em ambientes como mansões e grandes casas. Quando você chega em algum local e se sente perdido, logo vê que tudo faz sentido e passa naturalmente por ali.
Deu de cara com um portão misterioso que não abre nem por reza braba? Logo você vai se deparar com uma chave específica, não tem como fugir dela. E é aquele portão que vai dar continuidade para a sua história.
Em termos de game design, isso pode demonstrar um jogo limitado e sem inovação, mas estamos falando de Resident Evil, que é uma série de longa data e com seus “tradicionalismos” que agradam fãs. Não que isso seja uma desculpa ou uma carta branca para um produto de preguiça ou de falta de atenção, mas o jogo ainda consegue se tornar interessante, mesmo com essa característica.
Não demora muito, por exemplo, para que Resident Evil Village mostre quem são seus “inimigos comuns”, equivalentes a zumbis que permearam os primeiros jogos da série. E eles se repetem sempre que possível, da mesma forma que as criaturas de gosma negra de Resident 7. Mas não tem problema nenhum nisso, já que é um desafio comum do jogo e dá o tom certo para a ambientação que vivemos.
Os controles continuam em primeira pessoa, um esquema de jogabilidade que veio para ficar. Isso reforça também a questão que já levantei anteriormente, sobre Ethan Winters ser a representação do jogador, um ilustre anônimo que usamos o corpo para percorrer pelas fases e resolver mistérios. O segredo aqui é: quem gostou dos controles de Resident 7 vai gostar do que temos aqui.
O menu de itens foi levemente redesenhado. Está mais prático e mais claro. Outra mudança é que a vida de Ethan é monitorada agora por uma simples barra de energia que vemos na tela, que varia de cores para dizer se está mais ou menos ferido. O antigo Pebble que o personagem utilizava foi aposentado – até porque, a própria empresa não existe mais no mundo real.
No geral, Resident Evil Village representa poucas mudanças práticas nos controles e quase não traz inovação, mas tudo bem. Isso dá um senso de continuidade ainda maior – e parece que era esse mesmo o objetivo dos produtores da Capcom.
Uma única coisa que me incomodou de verdade foi o sistema de salvamentos e checkpoints. Você continua salvando em máquinas de escrever, mas o jogo também tem um sistema de “autosave”, que nunca funciona tão bem quanto se precisa.
Era comum eu desligar o game e descobrir, quando voltava a jogar, que tinha perdido alguns minutos de jogabilidade, já que o autosave não pegou meu progresso. Além disso, quando se morre para um monstro ou chefão, Ethan volta muito na fase, ao ponto de retomar quase que cenários inteiros do mapa.
Mas talvez isso tudo seja algo que sobre como um mero incômodo leve do que realmente um defeito.
Horror pra que te quero
Village também acerta no horror… Até certo ponto. Sustos estão na medida certa, mas logo a jogabilidade de ação dá lugar ao que deveria ser a sensação de terror constante.
Sim, Village soa como um Resident Evil até mesmo nisso. Em poucos momentos eu senti o frio na espinha e foi mais por conta da ambientação e combinação de trilha sonora com os cenários do que por qualquer outra coisa. E digo mais: nem foi com qualquer chefão, aconteceu contra inimigos “comuns” mesmo.
Já não é segredo que Resident Evil, como série, tenha se voltado para ação desde títulos passados e já há muito tempo, mas o sétimo game prometeu um retorno às raízes, que é mantido por aqui, ainda que não em sua totalidade.
Ganha muito o visual gótico e soturno de diversos ambientes. O castelo de Lady Dimitrescu e outros cenários que não posso falar para não entregar spoilers são um show digno de ficar algumas horas parado observando o que tem em nossa volta.
Colaboram para essa sensação, claro, os antagonistas. Dimitrescu é um show, como toda a campanha de marketing da Capcom já havia deixado claro. Ela rouba a cena em todos os momentos que aparece – e eu recomendo aproveitá-los muito bem. O mesmo vale para outros monstros, chefões e até figuras que parecem ser aliadas de Ethan em sua jornada. É um grotesco poético e que faz muito sentido para a atual natureza da série.
Estreia na nova geração
Joguei Village em um PS5 e também vi um pouco da versão PS4, rodando via retrocompatibilidade no mesmo console. Não notei enormes diferenças a não ser por efeitos visuais pontuais em iluminação e reflexos. O game é bem equivalente com o “início de geração” que estamos vivendo e a performance não deixou a desejar.
Carece aqui uma análise técnica maior comparando todas as versões, mas Village é bonito o suficiente para ser aproveitado em aparelhos da atual e da antiga geração, ao menos em termos de Sony.
Um detalhe que tenho a reclamar está nos efeitos de neve. Por se passar em uma região montanhosa, boa parte do cenário de Village é coberto por neve, mas já vimos coisas bem mais bonitas neste sentido em jogos da geração do PS4.
No restante da performance, o novo Resident Evil faz bem, muito bem. O mesmo vale para o áudio! Como citei no início desta análise, agora o game conta com dublagem em português, pela primeira vez na história, que está igualmente boa. Fico na torcida para que um game deste calibre incentive outras produtoras a dublar cada vez mais seus produtos para cá.
Conclusão
Resident Evil Village é um jogo legítimo da série da Capcom, no bom e no mau sentido. Quem espera alguma inovação enorme vai se decepcionar, já que o game é uma legítima continuação direta do anterior, mas há espaço para algumas surpresas e decisões ousadas da Capcom em termos de narrativas. Não dá para desmerecer a qualidade gráfica, jogabilidade certeira e equilibrada e conteúdo relevante para a mitologia da saga. O elenco de personagens completa o pacote positivo e há muito a se explorar para futuras continuações – sem entregar nenhuma surpresa, claro.
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