Perfis de Twitter que defendem o tratamento precoce, e que são considerados como sendo de direita conservadora, são mais engajados no compartilhamento de estudos científicos e notícias sobre a pandemia e a COVID-19. Os links sobre o assunto têm um tempo de vida 1,5 vezes maior em grupos de direita do que em grupos de esquerda ou de profissionais médicos, segundo um estudo da FGV DAPP.
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A pesquisa reuniu 3,3 milhões de postagens feitas na rede social, publicadas entre janeiro e maio de 2021. Além disso, o estudo identificou ao todo 1.156 domínios responsáveis pelas publicações, que geraram um total de 300 mil interações — menções, respostas e compartilhamentos.
As publicações envolvem temas como tratamento precoce, vacinação, incentivo a medidas de isolamento e uso de máscaras. A FGV separou os perfis que interagiram com posts que faziam reivindicações científicas sobre a pandemia e o coronavírus em 4 grupos:
- o primeiro reúne perfis que advogam pelo tratamento precoce contra a COVID-19, com políticos e influenciadores conservadores;
- o segundo, composto por parlamentares e influenciadores de esquerda;
- o terceiro, com profissionais de saúde e médicos; esse grupo conta com influenciadores científicos como o Youtuber e biólogo Átila Iamarino
- e um quarto grupo com epidemiologistas, jornalistas e associações de infectologia.
Os três últimos repercutem links sobre a ineficácia da cloroquina e ivermectina contra o coronavírus, além do atraso de Jair Bolsonaro para obter vacinas.
Links científicos sobre tratamento precoce circulam mais
Pesquisadores afirmam que o grupo da direita foi o único que compartilhou URLs controversas — com informações contestadas por fontes oficiais.
Dentre os 10 links com maior média de circulação no Twitter, 5 defendem o tratamento precoce, enquanto 4 falam sobre a CPI da COVID-19 e a ineficácia da cloroquina.
Os sites mais compartilhados pela direita são domínios hiper partidários, de sites como Revista Oeste e Terça Livre. Estes, segundo o estudo, divulgam “pseudociência”.
Enquanto isso, nos grupos compostos por profissionais da saúde e epidemiologistas, os links mais compartilhados são de matérias de veículos de imprensa como os jornais Folha de S.Paulo e O Globo, e sites como UOL e G1.
Direita compartilha mais links de revistas médicas
No Twitter, quando se trata de links de revistas médicas internacionais, como a plataforma medrxiv.org, a direita também é mais engajada. O grupo pró-tratamento precoce foi o que mais compartilhou artigos da OMS (Organização Mundial da Saúde), com 68% do total.
Estudos da The Lancet, outra publicação médica importante no meio da divulgação científica, também foram mais divulgados pelo grupo que defende o tratamento precoce, com 62% dos compartilhamentos — o cluster que advoga pela ineficácia da cloroquina e ivermectina corresponde por 14%.
O pesquisador Victor Piaia, da FGV DAPP e um dos responsáveis pelo estudo, afirma ao Tecnoblog que o grupo que é a favor da cloroquina e ivermectina compartilha principalmente preprints: estudos que ainda não foram revisados por pares.
“Na verdade esse grupo faz uma mediação: quando os veículos de imprensa e as autoridades sanitárias não corroboram com as informações que ele quer confirmar, eles vão direto no preprint para comprovar suas ideias.”
Victor Piaia, da FGV DAPP
A grande circulação de links científicos sobre a COVID em grupos de direita se reflete também em tempo médio: dentro desse cluster, URLs param de circular geralmente 240 horas após sua divulgação inicial. Nos outros três grupos, essa “vida útil” cai para 100 horas.
No Twitter, grupo pró-cloroquina interage mais
Mesmo correspondendo por apenas 21% dos perfis de Twitter compilados na pesquisa, o cluster lilás defende o tratamento precoce é o que atrai o maior volume de interações, com 41%. Em contraste, o grupo de esquerda, marcado em azul, equivale a 23% dos usuários, mas apenas a 34% das interações.
Já o grupo laranja, composto por profissionais de saúde, como médicos, tem apenas 11% das interações no Twitter, mesmo sendo o mais numeroso, com 30% dos perfis. O grupo verde, com profissionais de imprensa, epidemiologistas e associações de infectologia é o de menor contingente (9%) e engajamento (7%).
A base do grupo de direita, além de mais ativa ao espalhar links sobre ciência na pandemia, é mais coesa e interage menos com os outros grupos.
A FGV detectou que o grupo pró-tratamento precoce impulsionou 743 sites no Twitter, mas 328 são domínios exclusivos: isso significa que a grande maioria dos compartilhamentos (90% ou mais) se dá dentro de um único cluster. Isso corresponde a 44% do total das URLs divulgadas.
Para efeitos de comparação, a esquerda no Twitter se mobilizou de forma menos direcionada a páginas que confirmam o viés ideológico, com 41% dos sites compartilhados sendo realmente exclusivos. Esse percentual cai para a casa de um dígito nos grupos de médicos e epidemiologistas.
Por fim, Piaia ressalta ao Tecnoblog que a direita é quem tenta pautar mais o debate científico acerca da pandemia no Twitter:
“O grupo [de direita conservadora] não tem uma característica tão reativa, mas ele tenta pautar o debate, buscando preprints, estudos, matérias. Ele está disputando o debate público e tem uma dinâmica própria.”
No Twitter, links de estudos pró-cloroquina circulam mais e por mais tempo
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